terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Eu de repente me vi ali, sentado naquele banco. Olho no nada, ouvindo minha propria voz cantando um mantra que ninava minha consciência para que ela dormisse, desaparecesse. Queria saber como era ser o vento. As árvores a frente balançavam ao vento. Os cachorros que eu tinha levado para passear andavam pelo campo de futebol, que agora era o campo onde eu via meus pensamentos feito bolhas. Eu gosto desta comparação. Não é assim que os pensamentos são? como bolhas que vem e de repente pluft, explodem e viram outro pensamento. Ví vários pensamentos indo e vindo, não disse nada. Não os mandei embora. A casa que quero comprar, os impostos que tenho para pagar, os cães que estavam rodando pelo campo. bolhas e mais bolhas... Fiquei ali, quieto, penetrando no todo. Meu olhar olhava mas não via. Escureceu porque o tempo na horizontal não para. Mas eu estava ali, na linha vertical. Olhando por um segundo a eternidade. Vendo tudo e nada ao mesmo tempo. Ouvindo os grilos, sentindo o vento bater no meu veículo terrestre, meu corpo.
O bambúzeiro atras de mim rangia e chorava um choro estranho. Eu comecei a receber uma energia diferente. Já não era tão difícil olhar sem ver. Fui recarregando minhas baterias, sentindo a força do universo inteiro ali, perfurando minha aura. Então fiquei pleno e só conseguia sentir o amor divino me cercando. Foi enchendo meu espirito com o perfume dos lírios que estavam atras de mim, no mato. E foi um momento incrível. Eu era parte do todo e o todo era eu ao mesmo tempo. Foi pouco tempo que isto durou, não mais do que o tempo em que você leu isto. Mas foi como deixar de existir por um momento, desaparecer e perceber que existe depois disto algo que rudimentarmente chamamos de consciência, por falta de uma palavra melhor. Talvez plenitude, talvez amplidão. Momento de deixar a ação e afogar meu espírito na contemplação.
A flor ali, eu observando a flor, a flor me observando, eu e a flor sumindo e sendo parte do mesmo todo. Plenitude apenas. São momentos indescritíveis que só a meditação pode trazer. Então achei meu centro, voltei a minha casa, me levantei e parti pra vida outra vez, agora recarregado e confiante.